Entrecamadas #13 - Fazer questão de estar próxima
O fenômeno “epidemia da solidão” não atinge só os idosos. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Opinião revelou que jovens de 18 a 34 anos também se sentem cada vez mais solitários no Brasil.
Talvez, você já tenha ouvido falar que depois dos 25 anos fica mais difícil fazer novas amizades. As razões são parecidas (muito trabalho, cansaço dos rolês, vida de casal…), mas também podem ser particulares (alguém que passou por uma depressão, que mudou de cidade ou até que se reconciliou com a família e voltou pro ‘ninho’).
As explicações não importam tanto. Mas tem duas coisas aqui que valem a reflexão:
» Como mudar isso? Existe passo a passo para fazer amigos?
» O que sentimos quando nossos círculos de confiança diminuem?
Sobre o primeiro ponto, a Ellora tem um vídeo bem legal sobre como fazer amigos depois da pandemia:
Uma das questões que ela aborda é que as redes sociais criam uma ilusão de que estamos mais próximas das pessoas do que de fato estamos.
Muitas vezes, saber o que uma pessoa está fazendo, as coisas que gosta, onde vai etc não quer dizer que a conhecemos de verdade.
Sinto isso no dia a dia e percebo que não é algo só da nossa geração. Mesmo pessoas mais velhas têm esse sentimento de “Nossa, vejo tudo dessa @! Me sinto até amiga dela!”.
Vivendo e aprendendo
Com o tempo, aprendi que precisamos dar tempo para as amizades novas se aprofundarem. Quando somos jovens, geralmente fazemos amigos na escola, nas atividades extracurriculares (inglês, música, futebol, ballet…) ou na rua/prédio e qual é o segredo aí? FREQUÊNCIA!
Se encontramos essas pessoas todos os dias ou 2X na semana, fica bem mais fácil construir uma relação profunda. Vamos criando uma rotina não pensada de contar as novidades, confidências e ir sentindo até onde vai aquela relação.
Já na ‘vida adulta’ (se não estamos falando de amigos do trabalho), como a frequência dos encontros é menor, é fundamental dar mais tempo para que as amizades sejam construídas. Entender que o ritmo é outro, mas que vale confiar no que sentimos.
E isso nos leva a outro aprendizado: é preciso investir tempo em construir relações. Separar aqueles minutos na semana para mandar e responder mensagens, aquela noite para sair sem preocupações e tentar manter o contato para além das redes sociais. Fazer questão de estar próxima 🤎
Um click mágico
Algumas amizades parecem que foram feitas de uma matéria mágica, porque elas simplesmente acontecem. Sem esforço ou grandes explicações, são aquelas pessoas que se encaixam na nossa vida, nos nossos valores e jeito de olhar o mundo. Verdadeiros presentes.
Como disse a Jout Jout neste vídeo (e vale clicar para ouvir na voz dela):
“Essas amigas que permanecem – essas que acompanham mesmo – elas só permanecem porque elas conseguem te ver (e você a elas) para além dos momentos, para além das fases. Quando você recebe uma amiga e ela vê na tua cara que ali não tem julgamento, não tem controle, domínio, nada. É só recepção. Você abre espaço para aquela pessoa ser quem ela é ao seu lado. E é justo o que te dá ingresso para assistir de camarote a jornada de alguém e ir acompanhando essa jornada. Porque esse que eu acho que é o conforto que uma verdadeira companheira de jornada traz: aqui eu posso ser eu mesma, sabe? Aqui ninguém vai querer me mudar”.
Nesta fala, Jout Jout apresenta de um jeito muito simples o que é se sentir acolhida. Eu demorei muito para entender o que era acolhimento na terapia e como eu poderia fazer isso por mim mesma.
Quando eu olhei para as relações mais valiosas que eu tenho, entendi que já fazemos isso o tempo todo com as pessoas que amamos. O não julgar, o ser “só recepção”, o sentimento de “aqui você pode ser você mesma”, acho que vai muito por aí.
E é justamente aqui que eu conecto com o segundo ponto lá do começo do texto: o que sentimos quando nossos círculos de confiança diminuem?
É claro que a sensação não é boa. Mas acho que não é (ou não deveria ser) um problema numérico. Não importa se você tem 3 ou 10 amigas próximas, o que vale é a profundidade dessa confiança.
Aqui tem uma questão de saber que podemos contar com aquelas pessoas. Que há um vínculo, há um laço especial de estar pronta para se ajudar nos momentos mais complicados: ninguém cai sozinha.
- - - Como dica final, deixo este episódio do CaosCast que fala sobre a epidemia da solidão e a diferença entre interação, intimidade e vínculo.
Obrigada por acompanhar até aqui 🤎 Até a próxima quarta,
Mavi Vieira 🍂